navalha na alma
– olhos, dedos
bem atento
totalmente
concentrado
linha a linha
tiro o excesso
corto o duplo
encho a falta
desagrupo
ora junto
recoloco
e desloco
caem partes
involtáveis
entram novas
provisórias?
quando muito
complicado
os que veem
meu trabalho
olham tudo
bagunçado
uma dor
é inevitável
um desgosto
descritível
o processo
dói na alma
dói na alma
dói na alma
coração
na navalha
silencio
bebo água
lavo os olhos
limpo as mãos
e suspiro
e suspiro
e suspiro
e nos fins
lanço mão
dos sentidos
e harmonizo
suavizo
fio a fio
com um toque
mais moderno
logo após
eu espero
ter gostado
do trabalho
'que eu o amo
e o sofro
[sai de si
...
volta a si]
pois então
uso os olhos
uso os dedos
quem eu sou?
– cabelei'ro ou revisor?
– [silencia e sai de si]