FIAPOS DE MANGA NOS DENTES
O teu sabor é intenso.
Tua boca é de um gosto
de infância.
É como as mangas
colhidas numa tarde
há quinze anos.
Pulei a cerca e, escondida,
me aproximei da mangueira.
O vizinho cochilava
sob o mormaço.
Estiquei a mão e peguei uma,
e depois outra.
E, sorrateira, voltei
para o meu quintal.
O vizinho nem viu.
Talvez sonhasse
com um mundo
sem pequenos ladrões de manga.
O teu beijo
é quase como a manga,
a primeira que chupei
alegre pelo meu crime,
pequeno crime,
pecadilho, diria depois
o padre José.
O teu beijo desce sorrateiro
para dentro de mim
e rouba uma paz
que eu nem pensava existir.
Em desassossego te sigo
e peço outro beijo.
Se não me deres,
eu roubo.
Beijo roubado
é um pecadilho,
como diria
o padre José.