Comecei a existir

Comecei a existir

E meio que de repente, assim, tão eminente, numa brisa suave,

Num calor que já ferveu, num pensar que já faleceu, num amanhã que já passou,

Numa saudade que já foi sentida, num adeus que não é despedida, no começar de um fim,

Numa razão sem sentido, num abraço sem abrigo, numa prisão sem muralhas.

No amor que já foi pensado, no desejo do não desejado, da esperança que foi-se tornando vã,

Num vitorioso fracasso, num caixão de segredos escassos, na tentação de não tentar,

No passado escuro, no olhar sob o véu do fecundo, nas lágrimas de qualquer moribundo,

No despejar de uma criança, na alma de uma sinfonia, na cantiga de qualquer euforia.

No lugar mais imundo, no olhar do mais valioso do mundo, no estremecer das mãos,

Na fome de uma alma triste, no sorriso que em sorrir falsamente insiste, no sonho que só foi sonhado,

No realizar que do amanhã é passado, na felicidade que faz do mundo cansado, no pensamento que já não se pensa,

Na mágoa que já faz sentença, na vida do que não viveu, na morte do que não morreu.

E o que eu pensava ser amor, não era, e o que eu pensava não ser amor, a dor supera,

E tudo aquilo que parecia ser tão brilhante, era na verdade do escuro amante, e tudo que era tão bonito, era somente da tristeza refletido,

E a melodia insignificante de cantar ao luar, era só um tolo a gorjear,

E eu que do amor sentia-me amante, vi que era somente um ser inexistente.

E tudo que eu aprendi, desaprendi quando vi você, e tudo que era amor para mim, passou a ser somente um confim,

Pois quando olhei em teus olhos querubins, senti o amor sem despresos, o amor em seu mais puro desejo,

Quando peguei em tua mão, pude tocar todo o universo, e fazer dele somente uma estrela comparado ao céu que morava em ti,

Não me refiz em você, não me completei em você, quando a vi, foi na verdade, que comecei a existir.

Maria Fernanda de Araújo Dantas
Enviado por Maria Fernanda de Araújo Dantas em 12/02/2020
Código do texto: T6864547
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