POÉTICA NAMORADA E O PÉ DE SAPUCAIA

Era uma manhã um tanto desajeitada. O galo não cantava, o sol ventava, as galhas de árvores se debatiam estressadas e as nuvens migravam para longe apressadas. Antes eu tivesse me mantido no conforto de minha casa enrolado sobre os cobertores a apreciar a cômoda de madeira surrada. Com um ânimo duvidoso me levei a pedra mais alta carregando em meu bolso sementes de Sapucaia. Ali de cima eu via tudo; onde o vento fazia a jornada, onde a terra contornava, também enxergava a estrada de terra avermelhada e entendia por completo onde estava. Via o sol escancarando a sua cara amarela e escutava além da margem de córrego que por perto ali passava as fofocas dos pássaros da mata.

Eu não sabia como se criava, plantei e sem muito render de vez em quando eu ia e regava. As chuvas não eram tão escassas, a terra vermelha que tudo sugava puxava das nuvens as águas. É, meu pé de Sapucaia que um dia eu plantei, representava nada menos que o dia em que mudei. Suas passagens e balanços, os seus galhos e tronco, um conjunto de crescimento continuo e belo. Antes gostava eu de pensar que o amor devia-se ser como uma Sapucaia, que cresce, cresce e não para. Mas essa nossa naturalidade, nossa eterna abrandada vontade de mudança que me trás desesperança. Percebi que a gente cansa, mesmo a mais perfeita dama, um dia perde companhia. Seja pela traição, pela ira, pela falta de vontade ou talvez é só a vida. Esse tempo leva tudo, interesse prematuro, tantos planos pro futuro em um presente sem lar. Oh, minha Poética Namorada, enquanto assisto caindo ao chão o pé de Sapucaia que crescia em terreno não mais meu, aprecio e assimilo com um certo pranto, nossa história onde só existiu eu, o Romeu.