A Rosa dos Amantes
I.
A Ventura e a Fortuna, essas madonnas
Infernais, ao que parece, sorriem para mim.
Pois ó! Nunca pensara eu nessas ondas
De jovem vida, viver amor como esse, assim.
Há tanto tempo esse teu manto de jasmim
Me seduz, me encanta e ao seio domina,
Que já não consigo negar para ti, doce menina:
É por ti a quem meu coração bate o sangue carmesim!
Todo o spleen, toda solidão e toda noite mal dormida
É a falta de ti! É a distância e a carência do teu amor.
Ah! E a cadência das minhas diástoles, a dor desferida
No meu triste coração, é causada por esse maldito torpor!
O nosso amor, a nossa volúpia, a nossa paixão,
Não é coisa qualquer, tampouco sentimento vão.
É coisa divina evocada dos benignos céus
E, senão, é benção oriunda dos encantos que são tão seus!
A ti, minha Inês, não escrevi nenhuma canção
Pois esse sentimento vai muito além da poesia!
Ah! E se tivesse escrito, não a cantaria no acordeão
Pois a bruma da tristeza no vento a levaria!
O meu beijo tão bem se encaixa no beijo teu!
E o teu abraço tanto encanta que para sempre a abraçaria.
Ainda assim, meu seio está tão longe do seu
Que me pergunto: Como ele não estaria?
Tanto te quero! E isso eu não poderia negar...
Ainda assim, por que será? O amor parece coisa estranha.
Me torturo na penumbra, tanto quero te amar
Que o sentimento faz arder as minhas entranhas!
Essa é a elegia do apaixonado, a rosa dos amantes!
Esse, minha amada, é o meu coração
estragado com os delírios divagantes!
II.
Tanto tentamos evocar a ternura dos enamorados
E tanto quanto, muito falhamos em nosso bem-querer...
Queria eu, poder te dar a ventura dos bem-amados!
Mas ó! Receio que meu coração não tenha esse poder!
A culpa de nossa tristeza, de nossa mágoa, vou dizer:
Foi minha! E é por minha causa que hoje não nos amamos!
Pois, oh céus! Oh Goethe! a treva, sempre a me envolver,
Sabotou e perverteu os nossos tão doces planos!
Quero te amar. Amar como nunca se amou alguém!
Mas eu sou podre,sou perverso... Eu sou imundo!
E tenho certeza: Para ti existe alguém melhor nesse mundo.
Nos amamos, eu sei, mas serias bem mais feliz com outrem...
Pensar assim me traz uma tristeza tão profunda
Pois ó! Teu amor é a única coisa que nesse mundo me apraz!
Ainda assim, sinto que minha paixão é coisa imunda...
Para te amar da meneira certa, minha querida,
Eu venderia a alma até mesmo a satanás!
III.
No jardim das afeições o Amor é semelhante a uma rosa.
E é, não obstante, a mais bela rosa que já existiu!
Seu deus é Cúpido, uma alma nada generosa
Que, maldito! A mais certeira das flechas em mim desferiu!
A beleza dessa rosa, assim como toda beleza, é coisa hostil.
E carrega consigo uma miríade de aguilhões.
Eu quero abraçar o amor, eu quero abraçar essa rosa!
Mas essa fleur di mal pode destruir os nossos corações!
Quero abraçar o teu amor contra meu peito, ó flor terebrosa!
Mas se eu fizer isso, temo que me rasgará com seus ferrões!
Temo ainda, rasgar a flor em minha mão desesperançosa.
Meu amor: Amar é machucar! Dizem as elucubrações!
Amar é machucar. É perverter, é apunhalar; é ferir e ser ferido,
E eu já amei demais! Eu já machuquei demais!
E tanto quanto, já tive tantos corações partidos...
O amor, deus e diabo, é um milhão de riscos e nada mais.
Amar é apostar, é arriscar, e eu, ai de mim!
Temo arriscar essa dor. Será que não amarei jamais?
Ó céus, por que será que temo o amor
que tanto me apraz?