Contradições

I

Todo amor que aquece o peito

Dos amantes, dos pombinhos,

Pode congelar de jeito

Quando eles ficam sozinhos,

Cada qual para o seu lado.

O nó fica embaraçado,

Viram pássaros sem ninhos.

II

Seus olhares apagados

Por tantas desilusões,

Como lenços encharcados

Por cascatas de emoções.

Na saudade, quem aguenta?

Congelou, depois esquenta

Num mar de contradições.

III

Está onde não existe,

Existe onde não está;

Como alegre, se é tão triste?

Dou a ela e ela me dá?

Quem responde a essas perguntas

De flores e urtigas juntas,

Se for mesmo o que será?

IV

Não queremos acordar,

Insistimos que podemos;

Persistimos em plantar

O que nunca colheremos.

Cuidamos desse jardim

Para você, para mim...

- É por morrer que vivemos.

V

Somos grandes e pequenos,

E seguros, ou nem tanto...

Somos orvalhos serenos,

Mas a febre do quebranto;

Somos o começo e o fim.

Somente quem ama assim

Pode ter nada e ter tanto!

VI

Enquanto o corpo caminha

A alma vai marcando passo.

A solidão se avizinha,

Vem rabiscando seus traços.

E nessas contradições

De amor e desilusões,

Eu já não sei o que faço.

(Ritemar Pereira, 04/2/2020)

Jarrê
Enviado por Jarrê em 04/02/2020
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