Entre livros

Isso.

Em tudo parecia

descompromisso,

mesmo que quisesse o isolamento.

Eu, desatento e distante,

música no fone de ouvido,

perdido em uma livraria

e nos ditos de poesia

que lia de cabeça baixa.

Eis que faço de erguê-la,

no instante do olhar atento.

Fez-se ali, o entendimento do gesto.

Vieram todos os verbos

bater as panelas no juízo.

Abria um livro qualquer,

fazia de me recolher a ele

e te diminuía a importância assim.

Que isso fosse sim alguma cena,

não deixaria vazar a impressão

de interesse.

Minha boca de silêncio falso

represava palavras de resposta.

Por suposto,

que estivesse eu a andar

por aquele espaço e a traçar

círculos despretensiosos

ao seu redor, só para melhor

saber-te os atributos.

Entrecruzava o olhar,

prospectava a intenção.

Não acreditava em miragens,

em paraísos estéticos.

Não. Não era isso.

Tinha que ter outras especiarias.

Ervas de etéreo teor,

planetas em aspectos favoráveis

e céu de brigadeiro.

Atenção!

O sangue correu mais rápido

e atrapalhou os pensamentos.

Entre livros e você,

corria um ar trêmulo

estávamos cercados por histórias

e glórias científicas

enclausuradas no papel.

Bem, depois daquele minueto

a livraria deixei e você veio

buscar-me os passos.

Gostava daquilo e gastava o passeio

apenas para testar sua ousadia.

Era dia de dezembro.

Apertei a sua mão e disse oi.

Foi de papo em papo,

num café, que nos soubemos.

Senti o perfume do discurso

agradar tanto os sentidos

quantos os significados.

Removi aquela couraça.

Abri os cadeados.

Estava livre, tão rapidamente.

O cenário e o palco.

Nova peça em cartaz.

Estreava a nudez

na vez do prazer

inédito.

Os textos que dizíamos

não pediam tradução.

Abrimos os poros,

banhamo-nos no suor

e, de repente,

estávamos livres

tão rapidamente.

Felix Ventura
Enviado por Felix Ventura em 02/02/2020
Reeditado em 23/03/2020
Código do texto: T6856139
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