O último carinho

Eras um amor feito pássaro
Frágil como grão de açúcar
Eu te peguei com cuidado
E te coloquei no peito
Cresceste lá dentro
Outros mundos quiseste conhecer
Pássaros precisam voar, pensei
E te deixei seguir destino
Nunca mais voltaste à terra tua
Cartas nunca mandaste
Notícias não chegaram
Como boa amante deixei sempre
A porta encostadinha e sem chaves
Esperei os séculos dos mortos cessarem
Para descobrir que tu nunca mais voltarias
A tua roupa lavada cheira a mofo
Retirei a aliança ontem à noite
Dez mil anos doei à velhice
O meu amor é grande demais
As ruas da saudade estão vazias
Tomo chá para dormir
O outro lado da cama está frio
E o silêncio da casa só é quebrado pelo velho relógio da parede
São sete horas e mais tarde irá chover
Os teus chinelos ainda no tapete da varanda rezam às flores mortas todas as manhãs
Insisto em colocar dois pratos na mesa na hora do jantar
O amor dói, mas é o elixir da vida minha