Como se fosses...
Escorres em mim, como se fosses rio
nas margens incontidas e alagadas do meu ser
flui na inclinação da luz, de alma liquefeita
a incendiar a voz improtelável da carne
de sensualidade imatura e imperfeita
Escorres em lava, na lavra da paixão
sem medo, no anseio e no tremor
na ousadia que pressinto no rodapé da palavra
escorres em mim, tal lâmina d’agua
sobre a terra sedenta por cultivo
na voz aguda da germinação da semente
Escorres em mim, suave e calmo
percorre-me com teus dedos
úmidos de esperança e paz
percorre-me na nudez pálida
de um bosque rumoroso
Desliza-me o corpo a ondular
em cada vaga, em cada brisa
em cada volta de mar
na ancestral sabedoria
supérflua e transparente
de nos sabermos iguais e tão diferentes.
Esgota-te em mim, amado
convicto que sobre nós
existem nuvens a ofuscar
o azul virgem do nosso mar!