Eu vou
Eu vou
Vou descamar camadas
Derrubar pratos
Daquele velho armário
Arranhar os ladrilhos
Do banheiro
Acabar com os azulejos
Da cozinha
Eu vou fundo
Eu vou porque gosto
Do mundo
Do mistério
Do esotérico de mim
E do outro
Vou por apreciar
Para destruir caras pálidas
Inventar absurdos e fantasias
Vou porque mergulho
Pertenço ao subterrâneo
Parte do solo impermeável
Aberta para o inexorável
Dessas línguas travadas
Sem a menor graça nas falas
Eu vou, amor
E você
Você vai andar sob a luz
Vai saber todos os percursos
De volta ao que não mais existe
Você vai querer o sol
Vai abraçar a armadura
Da fervura do estar vivo
Mesmo na pobreza das almas
Você vai
Eu vou
Nos desencontros
A gente, talvez, se ache.