LEMBRANÇA TRÁGICA

É vasta e longa esta primavera,

Que se entrecorta no tardio inverno,

Nesses relampejares amedrontadores,

Que atrasam a queda da folha,

A qual desprega dos galhos erectos,

Descrevendo movimentos arrebatadores,

Sob a fúria dos ciclones horrorizantes,

Fartos e incessantes desses tempos,

Acolhidos na forma de castigos,

Que imprimem dores e prantos duradouros,

Nos corações desalojados e nas faces luzidias,

Despregam do solo as frágeis construções,

Madeirames mal firmados desrobustos,

Ao sabor dessa valsa impiedosa e trágica,

Malsinadamente provinda das trevas,

De cujas luzes obscureceram inflamejantes,

Inquietos pesares, pinheirais caídos,

Rios transbordantes e turvos demais,

Inundando as várzeas ribeirinhas,

Sofrimentos dispendiosos, cedendo lugar

Aos intranqüilos sentimentos familiares,

Objetos flutuantes nas incertas correntes,

Pessoas e construções seguras, fortes,

Ilhados pelas torrentes impiedosas

Desses lamaçais temporariamente

Manifestos nas intempéries devastadoras,

Desses invernais presentes, acontecidos

Nas frentes frias dos ares parados,

Enquanto sonhos e esperanças grandiosas

Vão juntos nessas oscilantes correntes,

Dessas águas impuras e barrentas.

1.982