A MEU PAI
Não é fácil comensurar a tua ausência,
Visto que ela me foi chocante demais,
Necessário que eu me desdobrasse em paciência,
Externando o que os filhos sentem pelos pais.
Observar o teu corpo sem própria vontade,
Foi terrível ao coração de uma criança,
Que via em ti mais do que simples paternidade,
Levando ao túmulo parte de minha esperança.
Os teus olhos emurchecidos causaram-me pena,
O teu corpo frio e erecto em paciente espera,
As pessoas que te velaram, somaram centenas,
Hoje quem te chora, quem mais te venera.
A despedida foi tão aflita e comovida,
Dos olhos exaustos o fatal rio de pranto,
Das gargantas ressecadas a palavra incontida
No adeus à derradeira vez nesse espanto.
Foi trágico para eu observar-te ali estendido,
Numa destruição total aos belos sonhos meus,
A tua imobilidade deixou-me estarrecido,
Àqueles restos do que um dia foi Mateus.
1.982