EU E O NUNCA
Compro malas,
vendo sonhos
pra fazer meios
de comprar
um ingresso
para o nunca
de amanhã
a sorrir de minhas
graças tão
sem graça
quando paro num bar
e bebo a noite
na boca dos homens
e acordo estrela
no céu da rua
deserta e nua!
Me cubro de pelos
e uivo ao longe
num quadro
engraçado cheio
de verdes berilo
e azuis turquesa
porque o anil
ficou branqueando
a roupa no varal
a balançar seu perfume
sobre as cabeças das crianças
nas têgas, amarelinhas,
piques bandeira
e rolimãs de cadeiras!
Eu sou a nuvem,
a luva de uma dama displicente
sorrindo pra o malandro
bonito com pegada
de macho que assanha
a virgem arrepiada
na partes escondidas
de mulher sozinha!
Continuo vendendo sonhos,
agora sem malas,
sem bagagem,
sem merenda de viagens
e com a saia amarrada
em volta dos quadris
avantajados
requebrando a vida,
que de tão bonita
me convida pra posar
nua num barco
que, velejando, irá aportar
lá do outro lado,
onde nada é eterno
e o eterno é tudo!
Eugênia L.Gaio