PÁLIDA PAIXÃO
Antes de morrer, a moça pálida
Atravessava muros e pensamentos.
Voava através de vidraças,
Apostava corrida com o vento.
Antes de morrer, era poesia
Que brincava a noite nos telhados.
Pulava montes, planícies,
Cantava em dias nublados.
Um dia veio de longe
Um rosto triste e falso,
Contou estórias fantásticas
De amores, danças e passos.
A moça pálida, encantada,
Deixou-se levar pelas mãos,
Não conhecia o amor
Que mata com mesma paixão.
Noutro dia os jornais
Estampavam em suas páginas
Uma lágrima sem vida
No rosto da moça pálida.
O tempo passou e agora
O vento é apenas vento,
O dia não tem a aurora
Dos sonhos no pensamento.
A moça pálida, que era
As quatro estações do ano,
Hoje apenas primavera
Nas flores do desengano.