PÁLIDA PAIXÃO

Antes de morrer, a moça pálida

Atravessava muros e pensamentos.

Voava através de vidraças,

Apostava corrida com o vento.

Antes de morrer, era poesia

Que brincava a noite nos telhados.

Pulava montes, planícies,

Cantava em dias nublados.

Um dia veio de longe

Um rosto triste e falso,

Contou estórias fantásticas

De amores, danças e passos.

A moça pálida, encantada,

Deixou-se levar pelas mãos,

Não conhecia o amor

Que mata com mesma paixão.

Noutro dia os jornais

Estampavam em suas páginas

Uma lágrima sem vida

No rosto da moça pálida.

O tempo passou e agora

O vento é apenas vento,

O dia não tem a aurora

Dos sonhos no pensamento.

A moça pálida, que era

As quatro estações do ano,

Hoje apenas primavera

Nas flores do desengano.

Gilberto de Carvalho
Enviado por Gilberto de Carvalho em 13/01/2020
Código do texto: T6841227
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