Túmulo de Penas

Me arrastei por campos desconhecidos,

Achando que seriam com eles e comigo,

Mas desta tumba de plumagens fiz minha reverência,

Enquanto minha alma silenciosamente pedia clemência.

Cheguei com mais gentes que fio de cabelo,

Parecia um enorme novelo,

De linhas e linhas na costura de uma vestimenta,

Que me fazia alma ciumenta.

Havia tantos animais quanto gritos e rugidos,

Até mesmo grunhidos,

De diversas e inspiradas espécies do Mundo Novo,

Mas eu era o único corvo.

Até que o Rei dos Reis apossou de todas as espécies,

Não havia joelhos suficientes para chão ao Senhor,

Àquele mais alto quer satélites,

Fui pego em vazio ensurdecedor.

Por um instante vi o corvo negro dentro de mim,

Que borbulhava no lago sem fim,

Suas penas subiam e ele gritava,

Tentava voltar para onde estava.

Enquanto os animais estavam em sintonia,

Me encontrava em divina ironia,

Só ouvia o silêncio ensurdecedor,

Eu gritava por algum sabor,

Por qualquer sinal sequer,

Mas acabei sozinho naquele lugar,

Esqueci o que é se amar.

Eu procurava me olhar,

Procurava me encontrar,

Mas o silêncio me deixou sem lar,

Estou sozinho, não sou escutado,

Sou só projeto inacabado.

Até que surgiu a sombra por trás do trono,

A serpente detrás do tronco,

Num ronco,

Fez língua vir em minha orelha:

“Te tens, mas não tem nada,

És somente obra inacabada,

Es falido,

Es abismo,

Ponte para o quebradiço,

O Altíssimo não te escuta,

Sua pena não chegará ao céu,

Deus que te acuda,

Pois teu grito não gasta nem o mais fino véu,

Tu de boca de fel,

Não é digno desse anel”.

Minha cabeça começara a desligar,

Não conseguia a Deus enxergar,

Não sentia, somente o gelado,

O doce veneno havia entrado,

Acabei por fim em súplicas,

Com o bico rachado de filho ingrato:

“Seria eu para Ti, somente carne ao abutres?

Sois eu parte deste terreno de estrumes?

Sei que sou ingrato,

Filho desgraçado,

Não sou merecedor de nada por mim em léguas,

Mas até quando terei minhas penas em réguas,

Dondé que se encontra minhas tréguas,

Seria possível somente minha existência fadar,

Poderia tudo finalmente acabar?

Por que na vida não há a opção de morrer,

Simplesmente desaparecer,

Há de ser possível ser eu Escolhido?

Nesse corvo maligno encolhido?”

Deus não conversou comigo naquele momento,

Logo eu, filho ciumento,

Fiquei deixado as trincheiras sem arma,

Era todo o meu maldito carma.

“Sou somente túmulo de penas,

Sentenciado a infinitas penas,

Nunca fui digno tão qual merecedor,

Sou somente filho da dor,

Me colocaste de coração aflito,

Apenas eu desamor inativo,

Não sou digno de nenhum presente,

Muito menos sorrisos dente a dente,

Prole bestial e assustadora,

Teria esse corvo chance inovadora?”

Hoje me sinto sozinho novamente,

Numa madrugada estridente,

Sozinho e largado,

Pobre fadado,

Sinônimo de fracasso,

Sois rio escasso.

Me sinto tão mal de não ser o melhor servo,

Nem poder ser chamado de amigo,

Serei tal quanto bom pai,

Ou melhor marido?

Minha confiança não está nem em ponta de navalha,

Sou visto como esquelético canalha,

Mesmo cheio de pele e osso sou friorento,

Não consigo passar imagem não ser de ciumento,

Me diz que não perderei meu juramento.

Sou asco,

Sozinho no pasto,

Alma devasta,

Praga.

Espero que não se incomodes comigo Senhor,

Quero um dia alcançar a Ti com meu louvor,

Sei que tenho me doado pouco nesta missão,

Mas não me deixa sem meu coração,

Estou a sofrer madrugadas sem dormir,

Estou a ter dias sem sorrir,

O pior que me ferir,

É acertas a quem amo além de vivências,

Suplico por suas clemências,

Antes que me alcancem as desistências.

Eu tenho tanto sem ao menos merecer,

Como poderia somente a mim perecer,

Estou a uma pessoa só pertencer,

Mas ela não está a me querer,

Talvez esse ano eu deva morrer,

Novamente para esclarecer,

Que eu não vou esquecer,

Não saio daqui sem vencer.

Então neste instante levanto a última pena não quebrada,

Como símbolo de mente endiabrada,

Pois sou o mal necessário para mim mesmo,

Sou feito de meu próprio esmo,

Esmero este que lapidou minha perseverança,

Sois eu a eterna dança.

Meus olhos não voltarão ao antigo carmesim,

Até mesmo à escuridão do fim,

Não saio daqui sem minha benção,

E sem ela a mim,

Sabes que eu não irei desistir por demônios que me atormentam,

Pois eles até tentam,

Mas não adiantam do penhasco me soltar,

Sendo que sou filho do ar,

Eu sei voar.

Mesmo não conseguindo bater asas,

Tu sopras em mim motivação,

Pois sabe que eu seguraria muito mais que um anjo,

Para conseguir a minha benção.

Posso não ser igual seus filhos únicos da Verdade,

Mas eu sou uma Singularidade,

Sou o nada mais único que existe,

E sei que o Senhor a mim insiste,

Quero que eu cresça,

Quer que eu mereça,

Mesmo que até o chão eu desça.

Por fim,

Ao demônio Serafim,

Aquele que vem me visitado,

Me usando de reencarnado,

Aviso este que não sou somente homem ou corvo.

Branda suas sete espadas a minha alma,

Te derrotarei com toda a minha calma,

Pois o senhor me guarda,

Ele me alva.

Sou a gota de orvalho do óleo sobre a tela,

Sou a melhor carne de panela,

Sou o corvo mais bonito dessa encarnação,

Sou o grito de toda uma morta nação.

Dentre esses andarilhos,

De todos esses novilhos,

Sois o vento dourado,

O Corvo Alado.

Sou muito mais que um ovo,

Pode vir com seu espírito carcerário,

Com teu servo mercenário,

Mas eu sou o Diabo necessário.

Sou muito maior que os seus,

Aceito todos os defeitos meus,

Acompanhado da mulher da minha vida,

Sou a reencarnação do Amor de Deus.

Apesar destas dores,

Desses tenebrosos sabores,

Eu tenho certezas desses amores,

Que me pintam com novas cores.

Estou em processo de evolução,

Morri para uma nova encarnação,

É o Espírito de Deus em ação,

Me mudando para uma divina ressureição.

Peço perdão,

Peço que me dê emoção,

Derrama a unção,

Me ame,

Que deixe sangrar,

Que derrame.

Não deixe que a dúvida prevaleça,

Me faça varão merecedor e que eu vença,

Pois o amor é minha crença,

Preciso de nós dois interligados,

Como eternos amados,

Enamorados.

Corvo Cerúleo
Enviado por Corvo Cerúleo em 13/01/2020
Código do texto: T6840486
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