até raiar

há chance de raiar

e nem é sobre dias

é tudo que aquece

queima, afasta e atrai

é o que o peito guarda

o espírito se agarra

e a cabeça, tão dolorida,

tenta esquecer

nas veias fechadas

um líquido tinto

que só deus sabe

por quanto tempo corre

não caia na bobagem

de um novo eu

é tolo e nulo

se desfazer de quem se é

o que tanto atinge e aflige

foge de nossas mãos

carlos já lhe avisava:

o amor é assim mesmo

certos nomes e rostos

não são desfeitos

é inevitável:

acorda-se com eles

e os colocamos

bem onde nos diz respeito

se a memória é o que resta

deixe-a dançar

uns mais reais

sólidos, ferventes

outros mais aconchegantes

tão platônicos que são

são assim borrados

e insistentes

fantasia de um

passado mal resolvido

fugir é se esconder do sol

e enquanto não raiar

esse peito fraco

suspira moradia.

Nicoly Diniz
Enviado por Nicoly Diniz em 31/12/2019
Reeditado em 29/05/2020
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