até raiar
há chance de raiar
e nem é sobre dias
é tudo que aquece
queima, afasta e atrai
é o que o peito guarda
o espírito se agarra
e a cabeça, tão dolorida,
tenta esquecer
nas veias fechadas
um líquido tinto
que só deus sabe
por quanto tempo corre
não caia na bobagem
de um novo eu
é tolo e nulo
se desfazer de quem se é
o que tanto atinge e aflige
foge de nossas mãos
carlos já lhe avisava:
o amor é assim mesmo
certos nomes e rostos
não são desfeitos
é inevitável:
acorda-se com eles
e os colocamos
bem onde nos diz respeito
se a memória é o que resta
deixe-a dançar
uns mais reais
sólidos, ferventes
outros mais aconchegantes
tão platônicos que são
são assim borrados
e insistentes
fantasia de um
passado mal resolvido
fugir é se esconder do sol
e enquanto não raiar
esse peito fraco
suspira moradia.