Natal
Fomos feitos para lembrar e ser lembrados.
Para emocionar e fazer emocionar
Cuidar uns dos outros até o fim
Suportar despedidas ou adeus
Aceitar doações de bom grado
Cavar ou deixar cavar a própria terra.
Essa é nossa forma simples de vida:
Temos talvez uma noite para esquecer
A estrela que se apaga na treva
Entre duas lápides há uma rua a seguir
Vela, cochicha, anda levemente
A noite no silêncio talvez se durma.
Fala o que se consegue até sem conhecimento
Sobre uma canção no altar
Um verso de amor
Talvez uma oração a quem nem disse adeus.
Que desse instante nossos corações
Sempre lembrem e se fazem simples e graves.
Fomos feitos para a espera do milagre
Para o alento da poesia que o sonho norteia
Para estar sempre presente na vida e na morte
De súbito nada mais buscamos...
No Natal a noite é uma criança
Sem levarmos em contas a morte, apenas vida
Porque nascemos, imensamente, intensamente.