Ainda que seja dor
Meu braço de nuvem
buscou-te lá no confim.
Meu braço cinza de nuvem
te trouxe bem perto de mim.
Tenho brios da garoa
para umedecer-te a brasa.
Tenho jeito de quem voa
na vã ausência da asa.
Nessa pedra que pulsa,
expulsa a dureza daqui,
garimpo-te tanto a cor,
como a de vermelho rubi.
Para letra, frase.
Para o verbo, amor.
Quase que seja ainda,
ainda que seja dor.
Minha perna de mar
andou cá por suas águas.
Minha perna azul de mar
prescindiu das mágoas todas.
Tenho modo transverso
para dizer-te o que sei.
Tenho trejeito inverso
no reverso de um rei.
Nessa rocha que sofre
da valentia das ondas.
Declamo-te essa estrofe
vagueando em minhas rondas.
Para letra, frase.
Para o verbo, amor.
Quase que seja ainda,
ainda que seja dor.
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Nota: Esta obra foi originalmente escrita em 2006 e faz parte de um conjunto de textos resgatados e revisados, concebidos em outras épocas.