Paixão de um moribundo.
Ourí olvida que a morte
Possa tolher-lhe os passos gripados
Agora que a esperança sadiamente chegou
E como se olvidar fosse não crer,
Ele olvida demais, vencido pela utopia
De momentos de ânimos acalorados:
Não espera vir a morte agora que não a quer,
Como se ele - pobre doido - pudesse evitá-la...
Ah! como é tola a esperança
Nestas horas vinda,
Tão banal era a vida a pouco!
Indistinguível era o viver do morrer,
O fim nem esperava, talvez já estivesse findo,
Mas agora, agora que as cãs escarnecem vitoriosas
E foge-lhe a virilidade em grossos caldos, tens anelos!
Ourí, morras ao menos feliz, por morrer, se conseguires,
Jogues fora o conteúdo envenenado desta taça.
Ourí, nessas condições estás mais infeliz
Que um mísero que odeia,
Odeies, odeies Ourí, odeies com todo o amor,
O ódio não te exige forças físicas para realizá-lo,
Ao passo que a paixão Ourí, a paixão
É a união de corpos e espíritos sadios,
Vibrando ao calor da juventude!