Desencasulada
Desencasulada
Nasceu sem ninguém esperar
Ali, naquele lugar insalubre,
Insípido, descolorido.
Ninguém nem percebeu,
Estavam apressados demais.
Ela sorriu de leve
Fez cara de surpresa
Depois ficou rosada de vergonha.
Ninguém tinha a pretensão de vê-la
Nascer ali, naquele lugar de drama.
Quem não se percebia mais
Também não a percebeu.
O barulho era tanto
O povo faminto de vontade
De dias mais suaves
Que o suor já não era mais incômodo...
Em meio a gritos, disputas e pancadas
Ela nasceu sorrindo
Trazendo a beleza da vida,
Mas fora ignorada.
A cidade era crua demais;
Ela, temperada.
O relógio da praça não parava
De contar as horas
E ela pousada no meio do meio fio...
Depois de um arrepio
Arrancou voo e pouso no braço do borracheiro.
Ele abriu riso
Ela se espantou.
Ele a queria só para ele
Mas ela voou, voou livre...
Todos viram que ela havia nascido.
Era uma linda borboleta
Que nasceu no frio, ao relento, no lugar
Áspero, mórbido, pegajoso
Em que o povo
Já não dava mais nem conta
De si nem da beleza que nascia.
Marcus Vinicius