FLOR E VINHO

O meu corpo já era vinho

o teu corpo, ainda vinha.

O meu, já envelhecido

e o teu, frágil gavinha.

À mesa, vinho encorpado

em taças muitas, servido.

Rubís da terra tirados,

de mosto, a vinho erguido.

Me véns assim tão menina

à minha idade dobrada!

como podes já ser vinho

antes da própria florada?

Como posso ser a flor

da primavera de outrora?

por que Deus só lhe plantou

prá seres rebento agora?

Eu sou safra de cinqüenta

e tú de setenta és safra.

Por que enamoras de mim

se me tens numa garrafa?

Então, te esperarei no estio

na chuva, na flor e fruto,

se me esperares também

dentro desse amor oculto!

Aguardarei o teu tempo

como Infante ao seu presente.

Minha vinha da mais bela

deste imenso ocidente!

SBC-SP .

26/02/2005

José Alberto Lopes
Enviado por José Alberto Lopes em 06/11/2005
Reeditado em 27/01/2012
Código do texto: T68133