FLOR E VINHO
O meu corpo já era vinho
o teu corpo, ainda vinha.
O meu, já envelhecido
e o teu, frágil gavinha.
À mesa, vinho encorpado
em taças muitas, servido.
Rubís da terra tirados,
de mosto, a vinho erguido.
Me véns assim tão menina
à minha idade dobrada!
como podes já ser vinho
antes da própria florada?
Como posso ser a flor
da primavera de outrora?
por que Deus só lhe plantou
prá seres rebento agora?
Eu sou safra de cinqüenta
e tú de setenta és safra.
Por que enamoras de mim
se me tens numa garrafa?
Então, te esperarei no estio
na chuva, na flor e fruto,
se me esperares também
dentro desse amor oculto!
Aguardarei o teu tempo
como Infante ao seu presente.
Minha vinha da mais bela
deste imenso ocidente!
SBC-SP .
26/02/2005