Regozija-te, pois essa noite sinto teu corpo sob a lua e o prado.

(Rutilos amor.)

Fui tolo em te pensar grande

e tolo em te pensar, depois, pequeno

pois meu peito mugiu um som de solidão

Quando te vi à porta

desbotado, com rios glandulares, simples como és, te sorri à gravuras japonesas incapazes por si

Quando entramos

confidenciou minhas belezas exteriores e disse de elogios

que soaram como pontas de orgias

dos dedos

e, então, no vai e vem da metafísica das palavras

da metalinguagem

tocou-me, finalmente, tocou-me

e eu derramei na tua mesa risos intensos,

Tua mesa foi meu Quarto de Despejo

de solidão lauta e querida

E teu toque foi a porta

Estreita, hermética, dificílima de compreender

e teu rosto eram grandes signos da natureza que se entrelaçavam e construíam cenários de caos, felicidade e núpcias

Primeiro veio a terra; espessa, também difícil, mas necessária

porque ela mostrava-me a tua coragem de ser o que tens sido e o que foste há tempos

como quando beijaste Cidades e Bairros,

mas não tocou-lhes feito Porta que tocou um poço imenso, escuro e sem sinais bióticos

mostrou-me tuas noites em claro

- quando desejei ser teu rádio,

chorar sobre o teu cabelo, pelo teu itinerário -

e o barro que comia, pois catava moedas e dedilhava notas poucas.

Depois veio água; morna, quente, fria, pouca, muita, de grande contenção

e então chorei contigo pelos bares das noites, no Orto

com as mulheres e os homens que apertaram o teu rosto com as predições

e então descemos a 14, descemos a Cidade Velha e acompanhamos o bloco

tu Pierrot e eu Arlequim

Saímos primeiros no Arraial

contamo-nos anedotas e sensos do Dia a Dia

e me pegaste pelo braço e disse

"Quero-te quando a poeira subir

Quando ela descer

quando o carnaval se for

e a vida pesar

quando o pão escasso

e a liberdade pequena"

E então tirei teu chapeu com fitas

e beijamo-nos sob a poeria

Focalizou-se, após água, o fogo; um grande vulcão, uma grande paixão, queimou tudo, pretificaram-se as cousas.

Tu te aproximou bravamente, com desejos lascivos

e mordeu-me a orelha

depois desceu ao pescoço

e eu apertei teus cabelos

e dedilhei teu rosto, sem predições, apenas desejo e fugor

ardências, pulgencias,

levantamo-nos e nos fitamos,

fitamos cada parte inteiriça e doada

do corpo nosso

Eramos um

Em pés, para pés, frente a frente, olho a olho

e foste aproximando teu rosto até que fôssemos O beijo, de Klimt

e ordenou teus braços pelo meu corpo, pelo nosso corpo

e baixou até a cintura

então deitamo-no sobre o estuário

sobre relvas, prados, florestas, Amazônia fôssemos

nautas, descobridores, presos, livres,

libertos, grandes e pequenos

fôssemos tudo, buscamos tudo

fizemos tudo

e eu recordo de tudo

tua boca doce mel com cantares de inverno e verão

Tua boca dionisíaca

teu corpo duro sobre o meu

où sont les neiges d’antana.

(Meio cego. Meio morto.)

Hoje à noite,

me terás como a lua tem as marés

em dia de cheia

e o meu corpo que orbita o segundo foco da elipse esparciata

que por loucura é o teu beiço desenvolto

Tu me sentes num prelúdio de Plath

algo que demorou anos para concretizar-se,

trouxe contigo a solidão, a angústia, a melancolia

e os corais de proteção

Pré vês o sol que carrega as massas e o calor do eros

sê a chama que se incendeia em cadeia

até a nossa casa, aqui, agora

Por fim, estarei à cama

deitado, te esperando

aquecendo pelo teu corpo espesso

vastidão

, Rodrigo

(Soneto de Almeida.)

Lá vai Almeida pelos campos verdejantes, amarelantes

Olha o tempo curvando-o sem tocar

Distorce o corpo, menino, eu grito!

Corre pra cá e vem me abraçar.

Que vida vasta é aquela

que felicidade tão tenra, sincera

Me carrega por entre a pradaria

Me estende uma espessa alegria

Te amo porque quando te toco

me sinto mais homem

Te amo porque és meu

Te amo com tudo que tenho

Gira teu corpo ameno

que te digo o que me faz ser teu