Sozinho

Estou sozinho na escuridão chuvosa dos teus olhos.

Caminhando no deserto sem vida do amor.

Cantando súplicas em forma de louvor.

Nesta vastidão de areia,

Neste lindo mar seco,

Encontro papéis jogados,

Neles, lindos contos namorados.

Versos cheios de sentimento,

Escritos pelo vento.

Momento de paz.

Intensidade a vida me traz.

Vejo um pobre homem,

Será ele um velho?

Será ele um filho?

Será ele um andarilho?

Um homem feio,

De coração partido,

Ele tem um sobretudo rasgado,

Usa chinelos gastos,

É baixo,

Não enxergo seu rosto ao certo.

Ele veio ao deserto a pé,

Será que era aqui que ele desejara chegar?

Ele teve de andar quilômetros,

Só para aqui morrer sem amar.

Observo ele se deitar,

Ele está a chorar.

Ele tem um coração em mãos,

Nele está gravado a foto de uma mulher,

O que este homem quer?

Ele está a sofrer.

Ela é bonita,

Tem olhos claros que refletem a noite.

Tem um sorriso raro, que toda mulher tem.

Poderia ser até uma tela de tinta aquarela.

A maneira do homem olhar a foto

Revela seu amor.

Só de olhar seus olhos,

Consigo sentir a mistura de solidão e melancolia

Que há no seu coração.

Assim como uma criança sem mãe,

O homem chora sem esperança.

Na sua cabeça existem tantas lembranças,

Boas, ruins.

Memórias sem fim.

Do sobretudo rasgado,

O homem tira um velho papel amassado,

Do coração ele arranca uma caneta.

Começa a escrever:

"Estou sozinho na escuridão chuvosa dos teus olhos."

Pedro Lino.