Musa

Um dia ela lhe pediu uma poesia

Queria uma para chamar de sua

Ele prometeu que um dia faria

Mas a pressa já estava na rua

E a pressão era como uma trava

Seria o caso do ocaso do poeta

Amor era indescritível, disfarçava

E não queria se impor nenhuma meta

Mas à noite ficava como um louco

Buscando rimas para predicados

Será que eles eram poucos?

Ou a inspiração tinha acabado?

Quando cobrado dizia que tinha feito várias

Jogadas fora, já que nenhuma a merecia.

Ela dizia não querer nenhuma extraordinária

Sua desconfiança já transparecia

Talvez sua Musa não fosse inspiradora

A verdade é que a poesia não saiu

A falta de ideias era perturbadora

Até que um dia ele desistiu

Então “poeta” tentou inventar um motivo

E acabou por terminar aquele relacionamento

Não sem antes ouvir chulos adjetivos

Sua falta de capacidade levou o faturamento

Então solitário, remoendo em arrependimento

Escreveu uma carta pedindo perdão

Da sua incompetência, o reconhecimento

Distância doía mais do que assumir a falta de aptidão

Nela descrevia a saudade daquele corpo e seu calor

Ela voltou apaixonada e ele ficou feliz

Ela afinal ganhou uma carta de amor

E ele de novo se sentiu um poeta raiz