Decadência

Chegamos ao meio, entre o branco e o preto

houveram infinitos amanheceres. Eramos um tubo de ensaio,

eu e você permeávamos o tédio entre abril e maio.

Havia doçura mas não mais prazer, éramos jovens

eu sabia, e a cada amanhecer já não havia magia,

nesta loucura tensa inexistia o meio do dia para mim

ou para você.

Enganávamos o futuro e o presente era só promessa,

neste transito o tédio permeava nosso romance, conjuntura

aflitiva em que junho ficava fora do nosso alcance.

Todas as palavras imagináveis foram ditas, o pó que sobre a

mesa restava era de um infinito banal e espelhos refletiam

a si mesmo em outros espelhos, demonstrando apenas a pálida

intenção de um branco que queria ser vermelho.

E assim os meios não significavam um fim e não se concatenavam

entre o querer e o sentir, olhares vazios, olhos frios

e sem vida e o sentir não era sentido e o querer

era apenas a negação do querido.

Por fim, junho resplandeceu e em seu bojo a solidão da alma

vislumbrou a proximidade do inverno e um intenso azul no céu,

e também um mar de águas frias onde balançava solitário

um pequeno barco de papel.

alexandre montalvan
Enviado por alexandre montalvan em 27/11/2019
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