Decadência
Chegamos ao meio, entre o branco e o preto
houveram infinitos amanheceres. Eramos um tubo de ensaio,
eu e você permeávamos o tédio entre abril e maio.
Havia doçura mas não mais prazer, éramos jovens
eu sabia, e a cada amanhecer já não havia magia,
nesta loucura tensa inexistia o meio do dia para mim
ou para você.
Enganávamos o futuro e o presente era só promessa,
neste transito o tédio permeava nosso romance, conjuntura
aflitiva em que junho ficava fora do nosso alcance.
Todas as palavras imagináveis foram ditas, o pó que sobre a
mesa restava era de um infinito banal e espelhos refletiam
a si mesmo em outros espelhos, demonstrando apenas a pálida
intenção de um branco que queria ser vermelho.
E assim os meios não significavam um fim e não se concatenavam
entre o querer e o sentir, olhares vazios, olhos frios
e sem vida e o sentir não era sentido e o querer
era apenas a negação do querido.
Por fim, junho resplandeceu e em seu bojo a solidão da alma
vislumbrou a proximidade do inverno e um intenso azul no céu,
e também um mar de águas frias onde balançava solitário
um pequeno barco de papel.