Catarse

E foi numa manhã dessas, num dia qualquer, que ela sentiu que o mais íntimo do seu ser clamava por um despertar da alma, ansiava por um resgate de essência, chorava baixinho e soluçava.

Tudo o que o seu “eu” já havia feito ainda não havia sido o suficiente para abrir-lhe os olhos. Contudo, naquela manhã, onde tudo parecia tão normal, ela sentiu uma força que vinha de dentro. Se contorcia, gritava, se entregava profundamente ao momento. Sentia a mais profunda catarse, de olhos vivos, brilhantes e abertos.

Foi um divisor de águas, uma vez que seus olhos abriram, seria imperdoável, inimaginável fechá-los novamente. Seria crueldade com o seu mundo, seria uma negligência da alma.

Foi então quando ela sorriu e se deu conta da imensidão que era aquele momento de ressignificação. Agradecida, de tal forma, como nunca havia sido grata antes, dos seus lábios saíam luzes, dos seus olhos escorriam lágrimas, dos cabelos surgiam flores e no seu peito vibrava um amor púrpura. Ela sentia a leveza que era se amar primeiro e sabia que mesmo que ninguém compreendesse, não importava, jamais importaria! Ela compreendia e isso bastava. Isso a tornava o mais lindo ser que ela já havia conhecido, apenas por compreender que ela era o próprio universo materializado em vida, que o mundo inteiro era dela e que assim, ela nunca poderia estar sozinha ou nunca mais se sentiria sozinha.

Ela havia se transformado em pura gratidão.