Ó vento...
Vento.
Ó vento que levas nas asas o tempo
E nas asas, o tempo, é tudo o que tens.
Ó vento final da Primavera
Vento violento, mortal, quem dera,
Possuir em vida, tudo o que da vida vem.
E se assim fosse,
Ó velho vento que tudo toca e assiste
Não haveria espaço de tempo o bastante
Para possuir em vida tudo o que na vida existe.
Mas tu, que é capaz de estar em qualquer parte
A qualquer hora,
E que brinca agora com os cabelos
E enxuga os lábios dela,
Carrega em tuas vagas a minha’alma um dia
E eu, fazendo parte desse teu destino,
Deixo a vida herdando na morte o que não conseguia nela
Deixarei posses e sonhos a outros.
Viverei feliz, soprarei sobre a vela
E febril, envolvido num balanço eterno
Alçarei os cabelos, beijarei os lábios dela.