Recital
Enfeito-me de noite transpassada
em cada verso meu que te celebra
enquanto a roseira em frenesi
oferta-se em recente floração;
enquanto a manhã desabitada
povoa-se de abelha e girassol
chamando-te ao dia que se forma
num êxtase de luz e recital.
Eu sempre reinvento a esperança
em cada acorde trêmulo de sino,
em cada verso úmido de lua
polindo o cristal frágil das sílabas
com a mesma mão que guarda, entre as linhas,
a poesia auroreal do teu sorriso.
A cifra que te canta encantamento
escrevo sobre páginas noturnas
que se timbram na manhã.
O que canta em mim nasce de ti
e pulsa e vibra incontrolável
em sol desconsolado...
Meu poema não é mais que a tua ausência
vestida de saudade musical.