O último Vómito

Devagar me incendeio

e toda a respiração me fica atropelada,

o sangue a encher-me as veias,

o corpo pronto, a boca seca.

Demoras a chegar ao meu tempo,

tardas no milímetro final

e já quero explodir e não posso.

Anseio e fico assim parado, morto,

aqui a rasar a tua pele

como uma brisa quente que me levasse

arrastado até onde reina a tua boca blasfema,

a tua luxúria requintada,

o teu nada a encher todas as velas que não tenho

e ser nau enfim do teu tamanho, o ar que leva o fogo

para onde quer que olhes.

E agora é que me tocas, me apertas, me rasgas .

Me insultas.

Quero morrer e não devo

e quero ter e ainda me falta,

e vou até ao fundo do teu urro

como gárgula infame no último vómito!

Edgardo Xavier
Enviado por Edgardo Xavier em 13/11/2019
Código do texto: T6794245
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