Linhas tortas.

Há sempre manchas

Manchas nos tetos das nossas casas

Casas imperfeitas

Com suas linhas retas

Dessas, que na pressa do prazo estipulado

São quase perfeitas

Pois o "quase"

Quase sempre existe

E liga os fatos por linhas tortas.

Triste enredo!

Inimigo do atraso

O retrato em 3 por 4

De erros esquecidos nos desvãos da vida

Entra a luz pelas janelas

Basta olhar de perto

Retratados na memória

Guardando em segredo a tudo

O certo e também o errado

Todas, por obra do acaso, tem paredes tortas

Onde penduramos nossas redes

Onde perduramos a tanta preguiça

Vendo a vida passar por ali

Eu, daqui de onde estou

Vejo que há sempre uma volta

Uma volta no voo dos pássaros

Uma volta a mais no linho da rede

Um inseto preso na teia de aranha

Dando voltas e mais voltas

E só isso

Pois tudo que importa é o resultado

Oculto atrás da porta

Findos prazos, cumpridos a todos os compromissos

Porque "sempre" é muito tempo

E o tempo não volta

Justamente aquele que sempre sobrava

Agora falta

Não há mais lugar pra folhas mortas no quintal

Todas elas já foram varridas

Não há mais lugar pra belas folhas novas

As árvores já se encontram abarrotadas

Não há vagas para flores em nenhum jardim

Não há mais lugar pra água em nossos jarros

Não existe mais lugar pro engano em nossas vidas.

Edson Ricardo Paiva.