Igual a um Raio Rubro

Terras devastadas que a grama é rasteira,

O barro que seca em toda a fronteira,

Cada camada que propõe sobrevivência,

Tenta restaurar toda a minha vivência.

De uma única nuvem em céus ciano,

Como a tecla mais grave de um piano,

Veio um Raio Rubro,

Minha face me cubro,

Passou longe de me atingir,

Suficiente para me fazer ruir.

Peguei no meu rosto e migalhas lhe desceram,

Não há dor, não arderam,

Mas foi angustiante sentir o ar adentro,

Procurando por todo o meu centro.

De imediato fui ao muro e subi,

A pedra solta que subi,

Imediatamente caí,

E o trinco virou fenda.

Mas não há dor,

Não há sabor,

Talvez amargo,

Outrora carmesim,

Quando viro o meu rosto,

Dói sim.

Veio minhas memórias à tona,

Com cheiro de acetona,

Parecia machucado que arde,

Assim como és minha parte.

No ápice dessa intimidade,

O que me dói de verdade,

Nem é mesmo corte ou mordida,

Mas a falta sentida.

Que acontece quando dissemos que iriamos voar lado a lado,

Porque eu só me lembro do seu rosto cansado,

Do estresse que tenho causado,

Do seu rabo de cavalo.

São tantas as vezes que foi andando e não me puxou,

As ruas que sozinha atravessou,

Vezes que disse que chorou,

Esse sentimento não passou.

E acaba que quem trinca sou eu,

Não posso ser mais eu,

Se digo, fala que doeu,

Se doeu, fala que fui eu.

Diz ser 8 ou 80,

Mas só me sobra o oito,

Queria que fosse 80,

Oi, tenta.

Acaba que estrangula o que sente,

Deixa guardado em mente,

Mulher de sete chaves,

Vou afogar nos teus mares,

Pior é não ser um deserto qualquer,

São os polares.

Termina comigo nu queimando carne para aquecer a chama,

Sentindo-me sozinho na sua cama,

Se me quer não se reprima,

Me ama.

Com tempos e preocupações,

De todas as minhas ações,

Não te provei suficientemente ser,

O procurador de soluções?

Quebro a marretadas a vergonha,

Piso no orgulho da minha sombra,

Tento ser o ideal,

Mas afinal,

Por que sinto tanta sede?

Será que sou suficiente,

Se minha lâmpada acende,

Sente meu gosto no seu dente?

Por que nada é congruente?

E me pego dançando só,

Movimento por movimento aos holofotes,

Cresce igual alho-poró,

Cansei de ser racional,

Vou deixar as sete sortes.

Deixa transbordar,

Me mostra que tem tanto amor a ponto de vazar,

Se me esfaqueasse não sairia somente o sangue rubro,

É mais vermelho que o amor puro.

Pelo menos tenho coragem de cada não dos meus lábios,

Como diziam meus sábios,

Amai como nunca amou,

Pois se acabar, acabou.

Sou intenso como um desastre natural,

Não há força que pare meu ser sentimental,

É amor, tristeza, Ira e euforia,

Mas com esse sufoco de silêncios só me sobra a agonia.

Tenho tanto medo desse raio rubro,

Que nem barulho faz,

É nele que me sinto esbulho,

Num piscar de olhos se desfaz.

Estou cansado,

Frustrado,

Insuficiente,

Transparente,

E tem me destruído a mente.

O interesse como antes parece não conseguir gritar,

Se ele tenta sair de você imediatamente vem o calar,

O que aconteceu com o tanto que diz e provém,

Será que meu eu não mais convém?

Sou Corvo que voa faça luz ou penumbra,

Sobrevoo toda e qualquer tumba,

Mas minhas asas falham pela flechada,

Sua alvaja está vazia.

Será que se eu fechar os olhos não sinto dor na queda?

Com esse meu trinco será que quebra?

Se eu me afundar vou para de amargar?

Esse voo em queda livre você vai me aparar?

Lembrei do que meu sábio disse para mim:

“Se teu mundo desmorona,

Conquanto sua esperança entra em coma,

Vê em tu aquilo que lhe fixa a peça,

E impeça,

Qualquer momento de se esvair,

Pois se você ir,

Com certeza alguém chorará,

E quando esse dia chegar,

Existiremos nós para você vingar”

“Se tu não lhe sobras,

E parece insuficiente,

Tente,

Pois o gozo da vida é a dor,

Que dura por enquanto,

Difere-se do amor,

É tanto,

Até tu esquecerá o pranto,

Pois lhe digo amigo, irmão, servo e conselheiro,

Sê verdadeiro,

Pois o machucado também é,

Antes que se perca por inteiro”.

Pois aqui faço cláusula pétrea,

Serei minha Lux Aeterna,

Porque os pedaços que me faltam,

As partes que me calam,

São os gritos que deixou de prestar atenção.

Neste raio rubro eu me refaço,

Colo com lágrimas o estilhaço,

Do cansaço de não ser correspondido,

E sempre ter sede do seu sorrido.

Me quer,

Seja 80,

Pois não nasci para ser semente,

Se não pode,

Tente.

Me quer,

Insista,

Não me veja como qualquer,

Me conquista.

Me deixas do teu lado,

Não sou teu machucado,

Vou tirar todo seu medo errado,

Já matei o seu passado.

Me ama,

Me chama,

Seja na rua,

No íntimo,

Na cama.

Sou digno de ser,

Deixa eu saber,

Me segura tão forte,

Que parece que vai me perder.

Não quero saber qual pedaço de mim partiu,

Nem o rosto que eu faço quando sorriu,

De todas as cores que me lembro,

Eu sou mais anil.

Por fim quero tua intensidade,

Não quero passar fome do teu mel,

Tira de mim essa saudade,

Lembra do teu anel.

Aliança de promessas e juras,

Ser um do outro as íntimas curas,

De paixões tão puras,

Iluminando noites escuras.

Quero me sentir como a primeira vez,

Quando seus olhos passeavam sem fim,

Me agarrava e não deixava sair,

Diz que me ama na mais pura lucidez,

Que queria o mais intenso de mim,

Que não queria me ver partir.

Me agarra como me arrancava carne com os gatázios,

Segura entrepernas com medo deu ir,

Me deixa entrar,

Quero te fazer sorrir.

Já que tanto diz não lembrar do passado,

Deixa o medo de lado,

Tenha certeza desse fato,

Que dês do primeiro dia tens me laçado,

Então denta e marca território,

Me faz sentir amado,

Realiza este casório.

Me tira dessa sequidão,

Me pinta de roxo, vermelho, de emoção,

Junta a mim e esquece afora,

Vamos fugir,

Vamos embora.

Mas se nada é suficiente para que pegue minha mão,

Então,

Diz que tenho que fazer para estar a par de tua igualdade,

De poder demonstrar confiança de verdade.

Só queria um pouco mais,

Estou pedindo demais?

Se puder realizar esse homem sedento,

Imprudente e ciumento,

Abre a porta e deixa eu ficar dentro,

Pois eu não mais tento,

Realizá-lo-ei.

Corvo Cerúleo
Enviado por Corvo Cerúleo em 31/10/2019
Código do texto: T6783665
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