A Tormenta e O Obelisco

Eu sou uma tempestade que deixam os céus violeta,

Que traz nuvens violentas,

Sou a perdição,

Me encarrego da chuva do verão.

Nessas terras desérticas de areia arco-íris faço o Sol se esvair,

Sangrando sua luz para o monte lhe cobrir,

Afeição da noite e seu sorrir,

Outro dia a morir,

Mas no meio de tuas confusões se faz um obelisco,

Numa trovoada nenhum abalo sísmico,

E fui a interessar.

Desci meus ventos até o chão,

Passei os dedos do pé por todo o arenito,

O obelisco construído por unção,

E eu fiz chover granizo.

Acaba que eu sou Vento,

Sou ser sedento,

Calmo como aparento,

Nem condiz com o céu cinzento.

E da terra vinha tuas pirâmides,

Teus olhares firmes como ferro,

Corpo esculpido e severo,

Chegaste perto.

Toquei a ti o peito,

Com todo o respeito,

Senti pulsar um coração valente,

De um corpo rachado por outros abalos de semente.

Logo eu filho da tempestade,

Fui me apaixonar por um estandarte,

Tua montanha como monte,

E eu do outro lado da ponte.

Dos meus céus negros veio o raio,

Uma claridade em todo Cairo,

Trouxe a mais bela luz que poderia produzir,

E acabou por lhe ferir.

Tu criaste a mim um guarda-chuva,

Da cor de uma uva,

Mas por pedra a pedra foi pesando,

Acabou que me vi sufocando.

Por mais misterioso seja o secreto,

Tu vive no concreto,

Criatura tão amável,

Crente no palpável,

De mim provém o insensível,

De nosso criador do impossível,

Por mais que perdure nosso amor,

Tu precisa de clamor e eu de louvor,

Enquanto tu bate os joelhos sobre o solo,

Eu canto solo,

E por séculos dos séculos eis nos dois.

E o que mais surpreende neste céu e terra,

Que tu como serra,

Eu por poeira,

Sem eira nem beira,

A montanha que se move,

E o vento uiva em teu cerrado,

Mas até quando sigo o som das ventanias,

Sendo que não faço voar as tuas ilhas?

Por muito tempo vens criando terremotos,

E eu me iro em tufões,

Destas águas provém maremotos,

De mim só furacões,

Desses fenômenos cósmicos,

Estou cansado de todas as transgressões.

Por mais que tenha suavidade,

Somos reféns da gravidade,

E agrava nossa e toda relação,

Com uma briga sem razão,

Queres que eu fiquei no chão,

Quando minha maior benção é a irrealidade,

Porque se sou ar e ando,

Então não vivo de verdade.

Teu obelisco pontiagudo,

Que produz um som agudo,

É a lança que me empala,

Escorre sangue nessa vala.

Porventura queria lhe dizer,

Pensar em qual cor tu anda vendo,

Qual é a cor do meu vento,

O cheiro da minha chuva,

Se eu consigo por ti escorrer.

Nas brumas que me envolvem,

Tem a água que arrebenta em tuas costas,

Nos comovem,

Pego rodeado por coisas impostas,

Por mais que crie tuas paredes tectônicas,

Nada segurará minhas rajadas sônicas.

Porque tu és motivo de minha moradia,

A luz da terra que me irradia,

Mas tuas saraivadas são como iras vulcânicas,

São tempestades tirânicas.

E eu sempre fui tempestade,

De longe maravilhas e de perto calamidade,

Quero ser teu mesmo nas trovoadas,

Pois tu és minhas praias amadas.

Mas chega um momento que na tua Pangeia,

Volta e meia,

Não vou acompanhar tua Pompeia,

Pior castigo ao vento é a apneia.

Se tu move,

Vai andando sem nada a dizer,

Qual palavra lhe promove,

Que sentimento posso mais fazer acontecer.

Mas minha esperança é a morte da ansiedade,

Minha paciência é cria da tua irracionalidade,

Pois é sentimento de verdade,

Mesmo com minha cara de tempestade.

Chega um momento que tu volta a teu Obelisco,

E eu alço voo com um simples belisco,

Pois somos ainda só rabisco,

Deveríamos mudar o disco.

Largando a pouco meu amor,

Vou em busca do primórdio ardor,

Aquele que soprou o meu vento em violência,

Pai dono da minha essência.

Atende-me, sei que me escutas,

Senhor meu Deus,

Faz brilhar a luz da estrela do amanhã,

Para afastar o apagão da morte em Canaã.

Por ser teimoso de querer contenda sobressalente,

Ouvir as palavras que o inimigo diria sorridente,

Veni Vidi Vici,

Que tuas mãos ascas me alcançaram,

E eu caí.

Senhor e pintor do meu esboço,

Ilumina o meu rosto,

Mostra o que de oculto não sobressai de minha voz,

Desfaz todos esses nós,

Mostra o que meu coração quer esconder,

Coloca na mão dela qual a cor daquilo que lhe vem a escorrer,

De quem retrocedeu e pintou fora da linha,

Faz de toda a sua impaciência a calma minha.

Toca-me como órgão em orquestra,

Coloca-me junto em teu dizeres,

De suas costas arranca a preocupação e sequestra,

Evidencia que a amo em teus saberes.

Pois estou cansado de dias chuvosos,

Mesmo que meus sombreados de expressão sejam tenebrosos,

O sorriso está meio as nuvens de tormenta,

Mas ela não vê e não me aguenta.

Quero ventos calmos,

Frutas boas de teus Salmos,

Alcançar o colo dos mais altos,

E eu procuro nos meus saltos e saltos.

Sei que ela me quer e amai,

Mas nem todo dia e nem toda hora,

Seca como um deserto Sinai,

Tenho medo deu ir embora.

Faz de mim à Jó tua paciência encarnada,

Pois estou como vidro trincado,

Olha minha cara desesperada,

A medida dessas marteladas,

De toda conversa machucada,

Nessas nossas caladas,

Vou acabar quebrado.

Se me amas me entende,

Que quero ser alma sorridente,

Quero lhe fazer contente,

Mas deixa que eu tente,

Dime tua vontade que não lhe faça,

Dime qual ajuda não lhe dou graça,

Que minuta não me fez que não lhe fui socorrer,

Percebe que não está sozinha, só não vê?

Se desse derrame de sentimentos nada lhe satisfaz,

Me mostro a ti minha mais intima verdade,

Ensina-me como cativar sua paixão que tanto se desfaz,

Qual o custo de ter reciprocidade?

Faço o meu possível mas sinto que te perco,

Procuro melhorar mas retrocedo,

O que te impede de cair por paixões nos meus braços,

Será que não sou suficiente para juntar os seus pedaços?

Me diz pois estou envolto em solidão,

Parece que estou sendo em vão,

E quando bato em seu muro,

Estou indo embora num sussurro.

Pois vento nenhum move montanha,

Eu também não se acanho,

É mais fácil contornar,

Se eu ficar eu apanho.

Se essa imensidão de palavras não lhe é suficiente demonstração,

Eu fiz tudo que consigo em cada uma de minha ação,

Fiz com amor, com afeição,

Tirei tudo que tinha no coração.

Lhe entrego esse vazo quebrado que sou,

Nesse um ano o tanto que mudou,

Sinto vergonha todas as vezes que Deus me consertou,

Sou uma vergonha pelo sacrifício Dele primeiramente me amou.

Não estou satisfeito,

Mas exijo mais respeito,

Pois brigado não dá mais,

Quero ficar no meu lar que é dormir no seu peito.

Nesse baile de amantes devemos para de pisar em vossos pés,

Estamos parecendo dois manés,

Quero que me conceda o prazer de mais uma dança,

E de mim não se cansa,

Quero também encher a pança,

Aprender a fazer em ti trança,

Quero ser,

Promover,

Fazer,

Crescer,

Amor.

Corvo Cerúleo e Sarah Galiza
Enviado por Corvo Cerúleo em 30/10/2019
Reeditado em 30/10/2019
Código do texto: T6782812
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