O riso das tuas palavras

Não as tocar e senti-las

De todas as formas

Vesti-las para imitá-las

Navegar atrás de tijolos,

Cores, sombras e luzes

Palavras bailarinas

Bailando pra mim

Num baile faz-de-conta

Contando à vida o que

Não sai da minha boca

Palavras tuas: meninas

Risonhas e morenas

Palavras que me cheiram

A alma desassossegada

Deixando aqui um perfume

Inquietação da saudade

Essência subjetiva da verdade

Risos, risonhos, risadas, risinhos

Palavras tuas corajosas

Abrindo janelas do querer

Pousando num canto qualquer

Hoje, amanhã, depois dizendo

Ao tempo que o tempo não tem tempo

Invento rodas das tuas palavras

E giro o mundo num pensar

Risadas das tuas palavras

Reticências do crepúsculo

Corridas do sertãozinho

Que se esconde no céu

Das tuas palavras

Onde a seca não existe

A chuva molha as tuas palavras

Palavras molhadas, suadas,

Cansadas de repetições

Saem às vésperas do outono

Para cochilar na brisa da manhã

Nada é demais por si só

Nem tão pouco para nós

A última folha da árvore

Copiou o riso das tuas palavras

Resgate metafísico do sujeito

Ser ou não ser uma palavra

E quem as conhece além de ti

Palavras conhecem-se

Nas águas claras dos rios

Da tua sabedoria colhida

Na acolhida do teu viver

Risos, risadas, risinhos,

Palavras tuas sorriem.