Ensaio para uma certa musa
você não me cansa/ é, sim. descanso/ remanso/ água onde me jogo/ mergulho onde me afundo/ dengo/ sono profundo/ encanto/ mundo perfeito/ floresta encantada/ princesa que descansa/ enquanto tece sua rede de letras/ sua teia de tarântula/ meu labirinto/ constrói o ritmo que danço/ o chão que piso/ o riso que dou...
a brisa que me bate no rosto/ manhã de quase-primavera/ é seu hálito de pasta de dente/ que me corta rente/ e sinto como se fossem seus dentes na pele/ como o lado sem corte da faca/ você me faz mais contente/ limpa o ar preso no pára-brisa da minha vida/ lida com meus dados/ faz malabares com meu coração e mente/ não os deixe cair/ faça a rima certa/ acerte os ponteiro/ faça o relógio andar/ e ventre/ vire vento e me freqüente sempre/ ou só sopre leve/ que eu te respiro fundo daqui...
não se esqueça/ pele/ ventre/ rente/ dentro/ são palavras quentes/ invento um encontro/ te resgato da cama/ escrevo inconcluso/ não-coeso/ não sei mais o que faço/ se corto a pele/ se faço a tatuagem/ se faço a ponte ou detono a passagem/ às vezes fico assim confuso/ raso/ me falta luz/ um vento/ quando me vem a sua miragem/ princesa das tardes/ na floresta negra/ e eu na espreita/ inspiração/ piração/ cara-metade/ o que nos resta, palavras/ castelo que construo e concluo/ decoro/ habitat...
Você é a janela longe/ onde veja a silhueta de uma musa à espreita/ a que se deita tesa/ e se alisa com força da mão/ que me faz dentro de si/ no seu vale profana/ dama da noite/ açoite na minha pele/ que me risca e toma/ amor marginal/ distante/ variante de amor e amar/ fetiço/ arisca/ segura de si, minha fome, me tona e leve.