SÉPIA
Ao respirar inspiração
Me atento ao toque
Às edições passadas...
Tempos remotos
Doce gosto de beijo debaixo da língua
Ao sair,
O cheiro deixou rastro no ar
Dissipa aos poucos
Inspiro tudo, não posso deixar passar
A cada toque
Penso e estremeço...
Teu sorriso arqueiro
Aquele que me distorcia ao bater do cadeado
A cada novo desejo
Poderia ser a calça rasgada de flanela velha
A camiseta do Rolling Stones de ficar em casa
A temática não bastaria
Fragmentado encontra-se o Yin
Maquiado mantem-se o Yang
Que quase posso tocar
Eu fazia arte na tua língua
Tu me deixava ladrilhar.
Sinto sabor agridoce do céu
Tão azul, cinza, laranja
Cor de roxo predileto que eu gostei
Desbravei o céu de paraquedas
E o céu era grande demais
E eu poderia ter sobrevoado mais
Talvez, fui alto demais
Traçava um traço de nó nos teus braços
Tilintar dos dedos
Descompasso
Fiz sangue ordinário
Mais que gentilezas
Houve embaraço
Coisas que não fazem sentido
As abstrações sempre tem algo a dizer
Não são introvertidas, tímidas
Sequer caladas...
Fazem preferência ao diálogo direto
Sabem a quem se direcionar
Elas não se importam
Não há o que lamentar.
Sem lamentações
Eu dirijo n'onde não posso estar
Abro os olhos
Não há abril,
Não há senso do crítico
Do belo
Do ranço
Do débil
Apenas cores editadas
Sorrisos verdadeiros
Cor amarga,
Transforma-se em pôr-do-sol
Transforma-se em laranja
Sépia, mantra
Entre goles de cerveja nova
O escuro do quarto revela
Tons visíveis demais
Tem resto de vida
Nos quatro cantos.
Fragmentos de vida
Carrega cinza banhada à ouro
Bem datadas,
Providas de sentimentalidades
Não há o que se desfazer
Há muito de você nas lacunas
No anel de graveto fino
Feito num dia não muito bom
Um domingo comum
Ainda pendurado no criado mudo
Há tons demais para descrever
Reescrevo histórias pra boi dormir
De imagem
Não me sobra muito
Apenas o que consigo sentir...
À sépia do tempo
Eu ainda estou aqui.
À sépia,
Eu ainda estou aqui.
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