Cantos

Ele me trouxe uma canção

disse que o deixo doido

ansioso

cheio de tesão

guloso

que adentro pelo seu corpo

com um desejo afoito

sem pedir licença

que meu mistério

está além da ciência

está no hemisfério

que rege o coração

ele me deixa meio vadia

capengando pelo dia

e querendo que sua mão

me adentre pelas vestes

desnude-me dos ciprestes

que trago de outra vida

que ele sinta o cheiro do cravo

dos meus meios, sem o agravo

de ser senhor ou escravo

dessa santa tão bandida...

Elegia

(Péricles Cavalcanti e Augusto de Campos,

a partir de um poema de John Donne, poeta do século XVII)

Deixa que minha mão errante adentre

Em cima, em baixo, entre

Minha América, minha terra à vista

Reino de paz se um homem só a conquista

Minha mina preciosa, meu império

Feliz de quem penetre o teu mistério

Liberto-me ficando teu escravo

Onde cai minha mão, meu selo gravo

Nudez total: todo prazer provém do corpo

(Como a alma sem corpo) sem vestes

Como encadernação vistosa

Feita para iletrados, a mulher se enfeita

Mas ela é um livro místico e somente

A alguns a que tal graça se consente

É dado lê-la

Eu sou um, quem sabe...

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