A ARTE DA SIGNIFICAÇÃO

"As árvores são poemas escritos pela terra"

É a arte do homem de dar significação pras coisas.

"As árvores só tem existência",

Já escreveu o poeta.

"Que metafísica tem os corpos senão de serem corpos?",

Já indagou o filósofo.

Já dito, sigo afirmando:

O homem domina a arte

De colocar significação nas coisas.

A questão é se isso importa ou não,

O fato é consumado.

Somos complexos,

Intérpretes passageiros

Do mundo da vida.

Passageiros da objetividade

De nossa subjetividade significada,

Resignificada, fluída...

A química que me produz sensações,

Quando toco outros corpos,

A realidade química do momento,

Absoluto e móvel,

De quando olho

Com olhos de ver.

A conexão de subjetividades

Conectadas e ilhadas

Em seus universos particulares

Que partilham as emoções.

O mundo sensível que se faz

Alquímico com o mundo das ideias.

O amor.

Amo. Mas é tudo fluído.

Onde há constância

Nas relações de profundidade

Que a significação produzida

Me diz "é amor"?!

Quero acreditar.

Afinal, tudo é momento.

Se amo é no momento,

E no momento em que memoramos

O momento, enquanto

A significação tem

Profundidade.

Se aprofunde, quero abismos.

Abismos e estrelas!

Estico meu ser hipotético

Até galáxias e

Assombro o mesmo

Aos abismos.

Tudo isso que escrevo

É a reação que você me causa,

Ampliada pela paisagem verde

Que vejo da janela do coletivo.

Quanto mais a paisagem passa

Mais distante fico

E mais perto também,

Só que com o coração,

A mente, e todo o meu ser

Na potência em plenitude

Do meu ser diverso.

Sim, amo a sensação.

Não é isso o amor?!

A paisagem passa,

O momento passa,

As sensações ainda estão aqui

Falando comigo.

Ainda sinto seu toque no meu rosto.

Ainda sinto seu cheiro.

Ainda vejo o seu sorriso,

Mais maravilhoso que as árvores

Que são os poemas que a terra escreve.

Se as árvores são poemas

Que a terra escreve pro céu,

Você não sei o que é,

Tento dar significação

Mas "palavras"...

Sempre fico confuso,

E travo, nas limitações

Das palavras.

"Você é uma deusa!"

Meu Deus! Você é humana,

Eu sei, mas a arte da significação,

Em mim, grita "deusa!".

O poeta já disse

Que as coisas não têm metafísica

Senão a metafísica

De terem existência.

Mas essa não é a questão.

Penso que a importância

Está na significação

Que você produz em mim

Quando me olha,

Quando me beija,

Quando sorri,

Quando demonstra

Que sente o mesmo

E que como eu, tem medo,

Porque a vida é estranha, realmente...

Temos como hábito

Querer ter o controle

Dos acontecimentos,

Não nos frustremos.

Permitamos que a vida seja.

Enquanto seus dedos

Estiverem enrolados nos meus

Deixe que fiquem enrolados.

Enquanto nossos corpos

Estiverem em êxtase

Como um só

Deixe que sejam um.

Não controlamos nada.

Ou nos permitimos, ou nos privamos

E a vida apenas se desenrola...

A vida é curta

Para não viver de metafísica

E fantasias,

Produções de nossos corações

Do tamanho do mundo.

Deixemos que seja produzida

E sentida na nossa pele nua

A significação,

E que floresçam

As árvores

Que são

Os poemas

Que a terra

Escreve.