O Disco

Ouço Roberto. Está acabando a faixa “detalhes”. Ventilador ligado, quarto em penumbra, uma luz azul ilumina apenas o papel em que escrevo.

A agulha desliza sobre “como dois e dois”. É lindo, a música penetra em mim até a minha mais íntima célula, eu a sinto.

“A namorada”, sons feitos de sonhos invadem minh’alma e vejo no espaço teus olhos que parecem falar.

“Você” é a quarta faixa musical do disco e a primeira e única para mim, na qual consigo visualizar de uma só vez o Caminho de Santiago, com suas incontáveis estrelas, uma delas poderia ser o nosso mundo.

Estou em “traumas”, a vida é como é e não como gostaríamos que fosse.

A agulha risca a sexta faixa, “preciso achar um caminho”, como a vida é cruel, meu Deus!

Agora, “todos estão surdos”, não importa, o pior é que a sociedade é bitolada e gosta de condenar, eu sei, além de cegos são juízes também.

“Debaixo dos caracóis de seus cabelos” gostaria de passar toda a vida, a eternidade. O comprimento da Via Láctea não é suficiente para medir o meu amor por ti.

Gostaria que a minha e a tua vida fossem uma só unidade, mas a vida acontece e as mutações se sucedem, “se eu partir”, não chore amor, não chore!

O disco gira na altura de “i love you”. I love you.

Quinta faixa do lado B, eu compreendo, me perdi de “tanto amor”, mas o arrependimento está longe de meu horizonte.

Tu és “amada amante” para mim. O mais perfeito amor que existe. A única coisa que faz com que eu consiga me ausentar do mundo repleto de atribulações e caia no paraíso repleto do amor eterno, das sensações mágicas e dos prazeres incomensuráveis.

A disco ainda gira, entretanto, som nenhum se faz ouvir.