Lâminas frias
Hoje quase morri de um mal súbito de perplexibilidade
ao ver, na distância,
cortando a água esmeralda do mar,
o teu amor vindo em minha direção
como um bólido desgovernado.
Pensar que em dias atrás a paisagem era descolorida,
não oferecia inspiração
e os meus olhos não podiam ver o horizonte
pois, tão escuras como as tardes de outono
era o meu coração sofrido
ante a minha face de desolado fulgor.
Qual é o fim que a tênue linha da paixão se sustém?
Serei o braço que te abraça?
A boca que te beija?
O poeta que te traduz nas rimas?
O alvo das setas envenenadas da dor
que me buscam o peito
para enterrassem como lâminas frias
na carne febril deste pobre verme
cujo único pecado
foi amar de mais.