Candeeiro
*Noemia, esse meu *machamba estava infértil
E tu docemente chorou o seu *uthando
Nessa terra.
Noemia, de onde saístes?
Vieste do mar, dos astros de meus delírios? ...
Ah, é que quase tudo sempre foi dolorido
O afago me deixa desconfiado.
Salve moça de bica de flores azuladas!
Conta-me qualquer segredo, pois tua voz é canção.
Céus, tudo o que foi teu já é nostalgia, doce Noemia....
Hoje sou amante da saudade!
Quem me fez assim?
Foste tu, Noemia!
Com tuas mãos aveludadas
A tocar a minha mocidade
No ritmo da *xingombela.
Eu, menino, ao contar-te tudo isso
Pareço ridículo, mas Noemia,
Partilho contigo para que as lembranças
Não se apaguem com o tempo!
*
machamba : terreno agrícola para produção familiar
xingombela : dança tradicional do sul de Moçambique
Uthando : Significa amor em zulu língua sul africana.
Noemia : Carolina Noémia Abranches de Sousa Soares nasceu em Lourenço Marques (atual Maputo) em 20 de setembro de 1926 e morreu em Cascais, Portugal, em 4 de dezembro de 2002. É autora de um único livro de poemas, intitulado Sangue Negro, publicado apenas em 2001 pela Associação dos Escritores Moçambicanos (Aemo), em homenagem aos 75 anos da autora.