meu...

dói

como dói!

debruçar-se sobre o mistério

as linhas paralelas

amarelas da estrada

os santos ocos

que não põem o pau na mesa

meu...

como dói a dissimulação dos santos...

eu

aspirava ser um quase-santo

hoje sou um vento em vale de quase-nunca

sou um feto de 18 meses na barriga

e a vagina já dilatada, útero em fogo, água febre

nervo

e a luz fria e dura da sala de parto

me parte o meu cetro de santo morto

é quando o cetro partido vira fuzil

e disparo então minha dúvida viva e vermelha

aos confins da terra vermelha

vulcânica hemorragia de auroras

d’onde nascem os novos eus

e, de lá,

o mais delicado eu que beijará teus pés

do mais delicado ao mais satânico

que nem este te ferirá mortalmente

mas mostrará o meu bem e o meu mau: e os teus

para que me saiba

e saber, como sabemos, é poder e sofrer

- sinto falta do nosso futuro...

quem sabe o sal das tuas costas no meu papel...

a poesia que sai de mim tem que ser eu

...poeta é o caralho.

Luciano Fortunato
Enviado por Luciano Fortunato em 30/09/2007
Código do texto: T674549