EXPOSIÇÕES

Os mortos têm alguma dignidade

porque não falam.

Não fale,

não elogie, não critique, não exponha,

não avise.

Se te perguntarem algo,

responda,

porque você está vivo.

Se estiver entre amigos sinceros

algum discurso é permitido,

pois aqui o excesso é desculpável.

Fora esses dois momentos,

mantenha-se calado.

Não fale,

muitos falantes morreram com essa cruz:

falar sobre o que imaginavam.

Outros amarrados em fogueiras,

morreram de boca aberta

ainda tentando se expor.

Não fale,

principalmente a estupidez

da proposta amorosa.

Estúpida, mas esperançosa

e aqui a esperança exige apenas

mudez e silêncio íntimo.

Não fale sobre o seu passado,

muito menos do presente

e do improvável futuro.

Esta ânsia de fato não interessa,

sobre você poderá cair

o ridículo da hora errada,

o boato seguinte

ou pior ainda, a falsa reputação.

Fique quieto, escute, sorria.

Seja visivelmente tímido

e se quiser optar por algo burlesco,

cante ou escreva.

Do livro: As sondas amam

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 10/09/2019
Reeditado em 08/09/2023
Código do texto: T6742027
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