VÓ LUZIA
Francisco Alber Liberato
De repente, da treva à luz.
Do barulho do trem emerge a esperança
A buzina anuncia bonança
Feijão, milho, rapadura, farinha, ...
Deslizam nos estômagos e trilhos dilatados
A locomotiva se arrasta cansada
O peso das sacolas e dos anos
Suada, lentamente pousa, mais uma estação.
Outono, inverno, verão, amor no coração.
Primavera, prima Vanda, quanta emoção.
Muralha de ferro, ombros frágeis.
Ali pairava o alento, a certeza do alimento.
Como pode uma pessoa tão pobre
Trazer tanta riqueza?
Um trem era pequeno
Para transportar tanta alegria
Era mais do que mantimento
Era a sabedoria, a paz de espírito.
Era a autoridade moral
Era alguém que nem assinar o nome sabia
Era vó Luzia
Pão nosso de cada dia
Mulher fusão de aço e doçura.