Deita-te a meu lado
Neste momento em que tu se deitas a meu lado, dois sinos badalam na Catedral de São Pedro. Anunciam, firmemente, os arreios do novo mundo. Neste momento em que tu se deitas a meu lado, vejo em minha frente não semblantes, mas contínuos recreios. A doçura dos teus olhos é minha a vida a florir e remediar-se a si mesma.
Os prumos são outros. Matutinos (não despertos), os prumos são outros.
Neste momento em que dormes a meu lado, um mundo inteiro repousa minha ignorância. Meu atento, zelo e desespero. Meu furor, minha ira pelo mundo, pelas coisas, pelo abstrato, na concepção do amor.
Neste momento em que dormes a meu lado, são sutis e perenes as sombras da certeza. As sombras que não são vultos e nem flancos, mas imagens de vossa realeza. Deita-te a meu lado, meu amor, e não vejas o mundo que lhe escondo. Não quero que a pessoa que me faz bem veja que nele há a desgraça de um grande mago.
Abrace-me forte para que a meu lado, tu estejas comigo, e para que à distância façamos cessar a dor dos que sofrem. Para que nosso amor tape a voz dos mentirosos, a fome dos famintos e as intenções menos delicadas. Nunca se sabe o que é, como se forma, da onde vem ou quem constrói o amor.
Deita-te a meu lado.
Me beije.
Deita-te a meu lado.