CLARIVIDÊNCIA
A cena cristalina por trás da retina,
Sem retoque, ensaio ou trejeitos
Nenhuma maquiagem disfarçando a face dos dias
E meus olhos, tão cheio de imperfeições.
Só a essência crua, exposta, vil
Clarividência, intuição, negação
Ou o achado de algo, já esquecido pelo caminho.
Num arremesso de sentidos, me vejo
descobrindo o momento exato do desencanto
De quando quebrou.
Sem trilha sonora ao fundo
Tudo tão seco, ácido, amargo.
E, dali em diante, só uma sucessão de nada,
De conversas vazias,
as indiferenças disfarçadas de esquecimento
Dos atropelos insignificantes da vida,
Do portão que não abre, da geladeira vazia,
Da hora perdida.
dói, como toda a verdade soprada
Lateja e adormece.
Só que a sensação reverbera.
Aí, se volta ou insiste ficar, num lugar que seria só nosso,
Só que esse lugar não existe mais, sequer existiu.
E, a gente só queria ser a protagonista, a boneca do bolo, a estrela da festa.
Quem sabe se um minuto antes do fim, pudéssemos congelar a imagem,
Rotacionar a câmera, olhar por outro ângulo,
Mudar a história.
Cortar essa parte do filme, rebobinar, reescrever o script.
e, a vida seguir outro roteiro.
Quem sabe mesmo, se quando congelássemos a imagem,
Deveríamos, naquele instante, fechar a porta apagar a luz do set virar a página.
Ir embora e não olhar pra trás.
Escolher ser outro personagem.
Escrever, fim.
Lu Genez