CENSURADO (?)

Olho a ti e perco a voz.

Como quem lê um poema e não sabe o que dizer.

Não porque não entendeu. Ao contrário.

Porque os versos são diretos demais. Emudecem.

É faca que convida a segurar forte no cabo,olhando o reflexo na lâmina, faz-nos de juiz, jurado e executor num suicídio.

Direto no peito.

Súbito, sem voz.

Sente?

Não sei dançar. Sei que também não sabes.

Quer dançar comigo?

Um tango. Caliente como deve ser.

Posso lhe abraçar?

Posso lhe beijar?

Podemos viver e morrer uma noite de amor ?

Não! Não responda. Escute.

Nos deixe escoltar pelo embalo do bandoneón e das castanholas.

Acompanhe os (com)passos desse suicida.

Ouça a pupila dilatada e a voz que me falta.

Se possível, como eu, não diga nada.

Mas não porque não consegue dizer.

Porque escolhe não falar.

Feche os olhos.

Nos deixe conduzir.

Deixe ser os abraços, beijos, a vida e a morte numa noite de amor...

18.12.2018

Alexander Barbosa
Enviado por Alexander Barbosa em 29/08/2019
Código do texto: T6731799
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