Júlia e Cora
A primeira vez que você percebe
É estranho
É sutil, é frágil
E mesmo no delírio da noite
Você se convence que é melhor deixar passar
Você ignora sinais
Mesmo quando seu coração acelera
E ela está próxima demais
Você não entende o porquê
Nem como começou
Mas de repente
Quando seus olhos fecham
Ela está timidamente nua na sua cama
E você já escreveu mil poesias
Sobre como seria tê-la ali
O tempo não vai melhorar
Porque quando você começa a esquecer
Ela te faz lembrar
Acendendo chamas de fogueiras impossíveis
Brincando com possibilidades do que podia ser real
Poderíamos nos gostar além do agora
Poderíamos dar prazer uma a outra
Poderíamos ser liberdade poética
Poderíamos rir juntas de todos os nossos medos
Poderíamos simplesmente sair do meu papel
Mas o sol vai nascer novamente
E você vai repetir suas escolhas
Porque são seguras
Porque te levam a caminhos que seus pés conhecem
Você não vai navegar
Nesse vasto mar de sargaços
Só porque por um momento
O pôr-do-sol pareceu suficiente
Eu sou só uma dúvida
Que não vale o risco
Uma poesia declamada
Num dia que valia mais a pena
Ser o silêncio na multidão...