Além do mel senil, além da mente branca,
Além do mel senil, além da mente branca,
além do sonho-coma onde vivi por anos,
eu sou imperador de uma terra franca,
diretor de comédia inimiga dos panos.
Minha asa repartida ou minha perna manca
a ninfa do lugar não detesta ou não nota:
ela me coroou com seu poder de santa,
e, sendo ela tão rica, ainda foi devota.
Hoje da terra a qual tão bela cultivamos
sou rei sem padecer de um manto ou cetro d'ouro;
sem súdito nenhum, sem nada além dos ramos,
ou do verde que dão na coroa do louro,
eu reino cada alqueire a que beijamos,
cada folha em que sopra o vento cerebrino,
cada rocha pesada e antiga que assentamos.
Eu reino, pois, amor, o que há de mais bonito.
Mas de meu reino cuja aurora canta as peças
dos amores gentis me encontro tão distante
que nada estou vivendo e tudo morre às pressas;
tudo existe pequeno em meu abismo hiante.
Deus meu do céu, devolve-me as horas aquelas
por que tanto esperei que, enfim, pude viver
mas para, então, voltar às torturas possessas
e piores agora que vivi o prazer.
Esse lugar fantástico e todo impossível
em que pude viver transformou-se em memória,
memória de uma ninfa de tão boa incrível
que levantou um reino, uma vida e a glória.
Que haja sabedoria em meu ser corrompível
para aguentar os meses de vã solidão
que se seguem no claustro da espera terrível
em que bate, sozinho, o rapaz coração.
28/07/2019
05, 10, 11/08/2019
Sobre a primeira viagem que fiz com a Abelha, a jardins de Entre Rios de Minas: de 25 de junho a 25 de julho.