AOS ANJOS CONFESSO O MEU MEDO DE AMAR

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Entre crateras e cinzas de cometa,

nem te alenta a vaga estrela-d’alva;

e nessa plaga assim tão seca e calva

alguém olha para ti, aqui, poeta?

-Espreitam-me as pedras, os seixos no chão!

São olhos já cegos, retinas secretas

de rochas partidas, gastas, discretas:-

entreguem ao tempo a tua solidão…

* * *

No vale mais baixo do findo planeta

a luz chega exausta, sem voz, ofegante;

o sol sempre altivo, embora distante:

quais raios te aquentam? Me conte, poeta…

-Me esquenta a ternura de estrelas menores!

São luzes humildes na espera que some,

irmãs na tristura que o pranto carcome:

apaguem tua mágoa n’areia sem cores…

* * *

E se o tolo, de seu tino um descarte,

até no vácuo algum prazer se inventa,

um poeta no degredo de Marte

como se cuida se em sua alma venta?

-No ar tão quedo, sem lágrimas a destilar,

no surdo espaço de cromo e de ouro

pressente um enterro sem eco de choro:

aos anjos confessa o seu medo de amar!

NOTA: Esse poema se encontra também no meu E-book intitulado: "Todos os Poemas" que pode ser baixado grátis na seção E-livros da minha escrivaninha.

Richard Foxe
Enviado por Richard Foxe em 05/08/2019
Reeditado em 26/09/2019
Código do texto: T6713086
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