Melancolia
Espero, ainda espero.
Há pouco senti a brisa
e nela o perfume dos campos desabridos.
Poderias ser tu mas o teu aroma é forte,
intenso, de casca de maçã no lume.
Poderias ser tu no restolhar das folhas secas
mas algo me diz que tens passada mais forte,
de gente determinada
e na luz não há mesmo nada de ti,
minha boca perdida,
meu portal de sangue,
minha voz baça.
Espero, ainda espero
que sejas na noite a intensidade que preciso,
o absoluto de tudo, decantado,
até ao avesso,
o corpo, a melancolia, a saudade do sexo
assim achado onde ainda há instantes
a água nem corria.